tag:blogger.com,1999:blog-81205122031393050912024-02-20T03:20:31.971-08:00CriminologiaInês Guedeshttp://www.blogger.com/profile/07963496006448597518noreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-27153994729077557982010-06-03T12:03:00.000-07:002010-06-03T12:03:25.347-07:00Boscoville "Retratos de um Centro Educativo"<div style="text-align: justify;">"<em>Boscoville era um espaço físico e humano organizado nos moldes de uma cidade, aí estavam internados jovens delinquentes, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, que deveriam aprender a ser cidadãos responsáveis (Agra, 1992). No centro da «cidade Bosco» (Agra, 1992) situava-se o Hotel da Cidade, composto pela direcção, pelos serviços administrativos, os serviços profissionais (trabalho social, psicologia, psiquiatria, pedagogia), a enfermaria, as salas de reuniões, uma sala de artes e a cafetaria. Do Hotel da cidade tinha - se rápido acesso ao laboratório de ciências, ao estúdio de cerâmica, ao centro desportivo, ao ginásio e outros ateliers. Boscoville era composta por «quartiers», em cada quartier estariam cerca de dezasseis rapazes, e uma equipa composta por um coordenador, cinco educadores, estagiários e um guarda - nocturno. Os «quartiers» dividiam-se em «quartiers» de reeducação e dois de observação, os banlieues, onde se procedia à observação psico-educativa e psicológica dos jovens e à sua integração na vida de Boscoville (LeBlanc, 1983)."</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"A concepção de Jovem Delinquente adoptada em Boscoville foi a de Noel Mailloux (1971, LeBlanc, 1983),”…la délinquance est la manifestation apparente d´une condition pathologique latente qui n´entraine aucun préjudice en ce qui concerne la rationalité des individus en cause” (Mailloux, 1971 in LeBlanc, 1983). Os grandes traços comuns aos jovens delinquentes dos 16 aos 21 anos seriam: interiormente ter vergonha de si mesmo mas exteriorizar esse sentimento através de uma completa insensibilidade moral e «fanfarronice»; identificação negativa que leva à compulsão repetida, suportada por atitudes de jovens identificados como incorrigíveis. A isto se juntava uma atitude narcisista que impedia uma aproximação duradoura, amigável e confiante de alguém e uma aversão total a actividades sociais convencionais, em particular, à escola. Integração num gang para se proteger da reprovação do meio e dos apelos ao bom senso. Afastamento de todos os meios que os queriam integrar no seu seio: família, escola, igreja, organizações desportivas, o mundo do trabalho (Mailloux, 1971 in LeBlanc, 1983)."</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"Este centro tinha como objectivo transformar a personalidade do jovem delinquente a fim de: ajudá-lo a enfrentar as dificuldades normais de adaptação à realidade usando os seus próprios recursos (Gendreau, 1966, in LeBlanc, 1983); prevenir a reincidência levando o jovem a interiorizar a sua matriz pessoal, os valores e as responsabilidades necessárias à vida em comunidade (Boscoville, 1964 in LeBlanc, 1983); mudar a concepção que o jovem tinha de si mesmo e do outro (Gendreau, 1966 in LeBlanc 1983). O modelo de reeducação de Boscoville era composto por quatro fases: acclimation, contrôle, production et personalité (LeBlanc, 1983). A acclimation compreendia três objectivos: ambientar (fazer com que o jovem se sentisse bem na instituição), controlar o comportamento (criar condições de impossibilidade para o agir delinquente), e despertar no jovem as suas potencialidades, particularmente, a estima por si e a reestruturação das suas cognições. O contrôle girava em torno de três focos, o controlo exterior do comportamento, a integração na vida do grupo e o progresso nas actividades. A articulação destas três componentes pretendia incutir um sentido de responsabilidade aos jovens. A production caracterizava-se por uma maior criatividade, planeamento autónomo e desenvolvimento das suas capacidades de trabalho no exercício das actividades, devia também conduzir a um relacionamento mais autêntico com os outros, o educador e os colegas (Agra, 1992). A última fase, Personnalité, centrava-se no novo estilo de vida do jovem: “…sur les relations interpersonnelles, la structure interne du jeune et ses rapports avec la société et l´avenir (…) Les objectives proposés ont pour fonction de faire réaliser et accepter au pensionnaire qu´il est différent et qu´il ne sera jamais plus le même que le jeune délinquant qui arrivait jadis à l´internat. ”(LeBlanc, 1983, p.51). Esta transformação comportava várias consequências: a nível social ele iria sentir-se capaz de se integrar em meios não delinquentes, a nível intelectual, o jovem poderia aceder ao funcionamento cognitivo adaptado à sua idade. Ao nível dos valores e ideologia ele aprenderia a agir de acordo com as exigências do meio (LeBlanc, 1983)."</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"Os resultados mostraram que Boscoville não transformava a personalidade do jovem delinquente mas melhorava o seu funcionamento psicológico. A nível da reincidência, os actos delinquentes diminuíam em diversidade e em quantidade mas aumentavam em gravidade (LeBlanc, 1983, in Agra, 1992). A nível da reinserção social “A Boscoville, il n´y avait pas de suivi de réinsertion sociale organisé pendant une période donné.” (LeBlanc, 1998, p.19 in Gendreau e colaboradores, 1998). "</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Neste momento, Em Portugal, é urgente que</strong> <em>"os centros educativos para intervirem junto dos jovens deveriam definir de modo rigoroso o que é o delinquente, a delinquência, a reeducação e a reinserção social. Deveriam munir-se de pesquisas científicas anteriores e de boas bases teóricas psicológicas, criminológicas e/ou sociológicas. Deveriam especializar os seus técnicos, apetrechar o centro de bons instrumentos e infra-estruturas e criar uma boa rede de comunicações entre entidades na comunidade. Em concreto deveriam atender às necessidades específicas de cada jovem preparando, dentro das directivas de um projecto educativo geral, os passos precisos de um projecto educativo individualizado. Se estes jovens delinquentes são também o futuro da nossa sociedade, se são seres humanos numa fase especial de maturação da personalidade, pensa-se ser necessário, intervir, prevenir, reeducar, integrar mas de modo correcto. De uma boa ou má intervenção poderá resultar um cidadão responsável e socialmente útil como também um ser humano perdido para o mundo da criminalidade e socialmente problemático."</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mais uma função de um criminólogo e a urgência dos seu trabalho na DGRS (Direcção Geral de Reinserção Social), até para que a LEI TUTELA EDUCATIVA SE CONCRETIZE </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: center;">"“<em> A medida de internamento visa proporcionar ao menor, por via do afastamento temporário do seu meio habitual e da utilização de programas e métodos pedagógicos, a interiorização de valores conformes ao direito e a aquisição de recursos que lhe permitam no futuro conduzir a sua vida de modo social e juridicamente responsável” (artigo 17º da LTE)"</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>(</em>Costa, 2010)</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mais em :</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Agra, C. (1992). Instituições para jovens delinquentes no Québec, Canadá. Revista Portuguesa de Ciência Criminal, 2, 227-246. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">LeBlanc, M. (1983). Boscoville: la rééducation évaluée. Montréal : Éditions Hurtubise HMH.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Diário da República. (1999). Lei nº 166/99 de 14 de Setembro aprova a Lei Tutelar Educativa.</div><br />
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I Série- A, nº215.Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-65550092893836604672010-05-11T15:39:00.000-07:002010-05-11T15:47:03.048-07:00Portugal: É urgente promover uma Cultura Científica<div style="text-align: justify;">Perante um país que sente os efeitos perversos de uma crise económica, política, social e de valores, parece-me, e esta é a uma humilde opinião, por si, limitada, de uma aluna que frequenta ainda e só o 2ºano da licenciatura, que Portugal continua um país de pouca sabedoria e sem método, um país que continua a querer mostrar trabalho em discursos vazios e práticas despejadas de cientificidade. Qual é aqui a questão principal?? Fala-se muito em crime, delinquência juvenil e insegurança, urge agir, delinear políticas de intervenção, mas o trabalho fica sempre incompleto, fica sempre por fazer... Que falta aqui? Uma palavra tão simples e tão já dessiminada na sociedade, a Avaliação... Bem, ao ouvirmos esta palavra poderemos lembrar-nos de empresas que prestam determinados serviços e que no fim perguntam: Está satisfeito?, critério altamente subjectivo que não mede em nada a eficácia de um serviço.... Infelizmente é um pouco desta avaliação que se faz... Avaliação com uma lógica empresarial que infectou a administração pública.. Bem, como isto é um blogue voltado para futuros criminólogos, sinto uma enorme necessidade de dizer, que em Portugal há muito ainda a aprender e muito ainda a ensinar e muito ainda a fazer... É urgente criar uma cultura científica, é necessário promover politicas com base cientifica para que sejam eficazes e económicas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O que é então uma avaliação cientifica??</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em <em>"Introdução à medicina experimental</em>", Claude Bernard explica-o muitíssimo bem... </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"<em>Há, portanto, duas operações a considerar em uma experiência. A primeira consiste em premeditar e realizar as condições da experiência; a segunda consiste em verificar-lhe os resultados."</em> (Bernard, 1978, p.35)</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Transportando isto da medicina para a criminologia, passarei a dar um exemplo prático de uma avaliação tipo:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Problema: Centro Educativo para menores delinquentes--» quero criar um plano de intervenção de modo a reduzir o comportamento agressivo dos jovens delinquentes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Selecciono uma amostra de 100 indivíduos, em que 50 farão parte do meu grupo experimental ( aqueles que sofrerão a intervenção) e 50 farão parte do meu grupo de controlo ( aqueles que não sofrem qualquer intervenção).</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Escolho um instrumento de recolha de dados--» por exemplo um inquérito que me permita medir os níveis de agressvidade dos jovens que compõem ambos os grupos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Planifico qual o programa de intervenção: primeiro fazendo uma contextualização teórica com estudos já feitos na área e teorias, por ex: da personalidade, que desenvolvem este traço da personalidade, teorias de cariz mais biológica, que a associam a um gene ou a uma hormona, etc... Delimito qual a estratégia de intervenção ( imaginem que eu queria testar uma nova terapia de grupo em que a partilha e confrontação de experiências pudesse levar o jovem à reflexão e atribuir novos significados ao seu vivido, deixando de ser tão agressivo com os colegas e os técnicos).. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">No final da intervenção é necessário passar o mesmo instrumento que apliquei antes da intervenção para voltar a verificar os níveis de agressividade, comparar ambos os grupos e verificar quais os resultados, se foi ou não eficaz naquele contexto. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Há ainda a necessidade de avaliar do rigor e cientificidade da própria avaliação e analisar a aplicabilidade do programa.. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">isto sim é uma Avaliação, isto sim nós temos de fazer, porque para um país que peca por poucas e más intervenções, pior será se não avalia o que faz para poder, finalmente, produzir conhecimento cientifico e melhorar...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Muito há a fazer na intervenção junto de reclusos, menores delinquentes e em perigo, segurança, vitimação...<br />
<br />
Usando um pouco das palavras de um ilustre criminólogo português, Deixemo-nos de pensamentos mágicos e do "terror interventivo" e passemos a intervir a avaliar cientificamente, acrescento eu, Deixemos de meros discursos e ideologias, vamos ao terreno intervir e ver o que funciona ou não, se queremos um lógica de economia e de segurança pública e /ou paz social. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Qualquer dúvida, chamada de atenção, curiosidade, deixar comentário!!! </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-45049443871071386172010-01-09T07:22:00.000-08:002010-01-09T07:37:09.543-08:00Mais segurança menos Liberdade<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Já vai longe a publicação anónima de "Delitos e Penas" (1764)..... Obra em que Beccaria fundamenta o direito de punir por via do Contrato Social... No estado selvagem os sujeitos andavam em lutas permanentes usurpando os direitos uns dos outros, surge então o contrato, formação de um governo para garantir a paz social, legitimimado pela cedência de uma parte da liberdade de cada um. Os sujeitos submeteram-se a leis, restringindo a sua liberdade, para viverem numa maior segurança, só a quebra desse contrato dava direito a punir.... Esta é uma obra datada do séc.XVIII, mas hoje ao ler "Visions of control" de Cohen revisitei-a, acreditando que todas as teorias têm um fundo de verdade, não morrendo mas dando lugar no palco do conhecimento a pensamentos mais complexos em sociedades mais desenvolvidas. Pergunto-me o quanto hoje cedemos, o quanto hoje restringimos a nossa liberdade cegamente, para obtermos uma maior segurança, numa sociedade que diz ter mais medo, mais insegurança, mais crime, mais vítimas, mais risco...... Hoje, não posso dar um passo, "Sorria, está a ser filmado", há vigilância por todo o lado, este mecanismo tão simples ao qual já tratamos por tu, são uma forma tão evidente de controlo social, de controlo dos meus movimentos.......... Terrorismo, medidas cada vez mais apertadas, quase paranóia, ouvia hoje no telejornal... Um embriagado, o simples despedir da namorada, faz parar o aeroporto, faz cair em cima de todos os cintos apertados da vigilância do controlo social..... O crime..... O Homem na luta contra o crime fica cada vez menos livre, mas mesmo assim se sente cada vez mais inseguro... Que paradoxo tão injusto...<br />
Não consigo deixar de imaginar as sociedades contemporâneas como robôs, alvo de um poder ainda mais forte e em expansão que de tão dissimulado, aparece desconhecido, até menosprezado por alguns, o controlo social... Já falava M.Foucault do Surgimento a partir do séc. XVIII, XIX da expansão de uma anotomo-política do corpo e de uma biopolítica da população, trocando por miúdos, num controlo cada vez mais apertado sobre cada um e sobre todos ao mesmo tempo. Na sociedade disciplinar cada individuo é classificado, avaliado, identificado, vigiado, para se potencializar as suas capacidades num espaço e tempo cada vez mais aproveitado em favor da rentabilidade.... Não poderemos arriscar e dizer que hoje é o que acontece numa sociedade selectiva que separa o jóio do trigo.... A par temos medidas maciças do controlo de toda uma sociedade anónima,como as medidas politicas de incitamento à natalidade....... Rober Castel fala da "Sociedade do Risco" fazendo imediatamente lembrar as seguradoras que a todo o instante nos reduzem a cálculos probabilisticos, económicos , de probabilidade do não acontecer ou do acontecer..... <br />
</div><div style="text-align: justify;">Exclusão Social, será que os apoios dados não são uma forma de garantir um certo de estado de acalmia nessas massas, que na realidade sabemos que nunca se vão integrar, não será mais uma forma de controlo social, não serão as prisões uma forma de retirar da sociedade aqueles que nos fazem mal, não será hoje a policia, tribunal, justiça restaurativa, probation, mediação penal, os apelos à comunidade, a expansão de tentáculos cada vez mais fortes que nos tentam controlar diarimente...... Uma forma de "apanhar mais gente nesta malha do controlo social formal", estará mesmo o crime a aumentar, haverá mesmo mais insegurança?? ou estaremos a criar mitos, perdendo liberdade, em favor de uma segurança que muitas vezes dá nome a razões a nós desconhecidas.....<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tanto que fica por dizer.... Sistemas de Controlo Social, unidade curricular que nos ensina a ver o mundo de uma maneira quase asfixiante, na descoberta do poder evidente e escondido que a cada dia nos vigia, no alcance do criminoso e da nossa segurança.....<br />
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"O quanto está o Ser Humano disposto a pagar da sua Liberdade em favor da Sua Segurança"<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
Sugestões:<br />
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Cohen, S. (1985). Visions of social control: crime, punishment and classification (2005 – reimp.). Cambridge: Polity Press.<br />
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Foucault, M. (1975). Surveiller et punir: naissance de la prison. Paris: Gallimard.<br />
Foucault, M. (1997). If faut défendre la socíété: cours au Collège de France (1975-1976). Paris: Gallimard.<br />
Foucault, M. (2004). Sécurité, territoire, population: Cours au Collège de France (1977-1978). Paris: Gallimard.<br />
Garland, D. (2002). The culture of control: crime and social order in contemporary society. Chicago: The University of Chicago Press.<br />
<br />
Feeley, M. e Simon, J. (1992). "The new Penology: notes on the emerging strategy of corrections and its implications". Criminology, 30(4), 449-474<br />
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</div>Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-69733155208985024122009-12-20T10:00:00.000-08:002009-12-20T10:06:52.791-08:00Relação Droga Crime<div style="text-align: center;"><strong>“Levando por diante a metáfora da experiência comum, quando se refere à droga e ao crime como «mundo», diremos que para além do «mundo da droga» e para além do «mundo do crime», existe um terceiro mundo desviante, «o mundo da droga - crime»”</strong> (Agra, 2008, p. 110).<br />
</div><div style="text-align: center;"> (Agra, C. (2008). Entre Droga e Crime. Actores, Espaços, Trajectórias. Cruz Quebrada: Casa das Letras.)<br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tendenciosamente o senso comum é levado a traçar uma relação determinista e unidireccional entre estes dois fenómenos,- Droga leva ao Crime,- é um juízo comum partilhado erradamente por uma grande parte da massa populacional. Esta mania de coisificarmos o mundo, descomplexificando-o num pensamento simples, leva-nos muitas vezes a cair em juízos falseados e empiricamente vazios. Para compreendermos fenómenos tão complexos como a droga e o crime é necessário alargar o nosso horizonte, abrir a mente, e olhar bem mais longe, bem mais profundo, procurando um saber fundamentado cientificamente para reflectirmos de modo mais coerente sobre a realidade humana. Como pode o sistema de justiça, o governo, o direito penal, aplicar políticas adequadas a estes fenómenos senão apelarem ao saber criminológico? Se não apelar a um saber integrado e multidisciplinar que de modo racional e científico vai ao encontro das manifestações humanas, as estuda, revelando À vista daqueles que se fundam em juízos apressados, ideologias, falsas pedagogias, uma aproximação daquilo que poderá ser a demonstração e explicação do que realmente poderá acontecer.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os mais simplista diriam: Erradicar a droga para erradicar o crime, Impossível, completamente impossível... do mesmo modo que nem toda a criminalidade poderá explicar a toxicodependência, nem toda a toxicodependência pode efectivamente explicar o crime.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Baseado em estudos empíricos aprofundados e levado a cabo por escolas tão importantes, como por exemplo, a Escola de Criminologia Portuguesa, neste momento «sediada» na Faculdade de Direito da UP, ou a l´<em>Unité de recherche en toxicomanie du Centre internacional de criminologie comparée de L´Université de Montréal</em>, surgiram dois modelos explicativos sobre a Droga-Crime elaborados por Cândido da Agra ( Modelo Explicativo) e Sèrge Brochu (Modelo Integrativo).<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ambos os modelos são bastante complexos e dificeis de explicar, vou optar pelo primeiro, tentando ser o mais exacta e o mais breve possível...<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Durante 5 anos (1991- 1996) um grupo de catorze investigadores explorou a relação entre Droga-Crime partindo de 5 indicadores: os comportamentos, os indivíduos, os contextos eco - sociais, as trajectórias e a história da criminalização. Foram aplicados métodos quantitativos, como um inquérito aplicado aos estabelecimentos prisionais, e qualitativos, como a biografia, a observação directa em bairros da periferia urbana e a etnometodologia, na recolha dos dados. Através dos resultados obtidos e partindo da revisão de uma vasta literatura que já falava em modelos estruturais, causais e processuais, surge o modelo explicativo.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Reafirmo que é um modelo bastante complicado mas afirmo também que os interessados poderão consultar os doze (?) volumes resultantes desta investigação ou a sintese do mesmo que se encontra no livro <em>Agra, C. (2008). Entre Droga e Crime. Actores, Espaços, Trajectórias. Cruz Quebrada: Casa das Letras. </em><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Num traço geral e caindo um pouco no «pecado da coisificação» este modelo diz existem três tipos de estilos desviantes ( alguém que opta por uma vida contrária às normas convencionais): o estilo toxicomaníaco, o estilo delinquente e o estilo droga – crime, que divergem entre si devido a factores biopsicológicos, sociais e biográficos. O toxicómano só consome substâncias psico-activas e não é visto como delinquente do ponto de vista biopsicossocial e de contextos de vida. O delinquente opõe-se ao anterior quanto às mesmas dimensões. No entanto, existem indivíduos que comungam das duas coisas: praticam crimes e consomem drogas, pertencendo ao estilo da formação droga -crime. No estilo da formação droga-crime temos três trajectórias desviantes ( individuos que cujo processo de vida passa por várias fases evolutivas ao longo do tempo): o toxicodependente- delinquente, o delinquente-toxicodependente e o especialista droga-crime.<br />
</div><div style="text-align: justify;">Delinquente- Toxicodependente "<em>A actividade desviante, que emerge por volta dos 11 anos, é um continuo que vai desde o absentismo escolar aos comportamentos pré-delinquentes, anunciadores de uma actividade criminal precoce. (...) Os primeiros contactos com as drogas leves ocorrem preferencialmente antes dos 16 anos, a integração na subcultura delinquente ou pré-delinquente."</em> (Agra, 2008, p. 48)<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Especialista Droga Crime: <em>"Os comportamentos delinquentes emergem entre os 17 anos e os 19 anos com a prática de furto e roubo. Contudo, desenha-se já uma tendencia para a pratica de trafico de estupefacientes."</em> (idem, p. 49)<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Toxicodependente- Delinquente: "<em>Os primeiros contactos com drogas leves ocorrem maioritariamente entre os 14 e os 16 anos e o consumo de drogas duras inicia-se, preferencialmente, antes dos 19 anos. Os delitos (roubo/furto ou tráfico) emergem posteriormente ao consumo de drogas duras e são justificados pela necessidade de manutenção do consumo."</em> (Idem, p.50).<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Os estados de envolvimento da formação droga-crime: expressão operotrópica (no qual o consumo de drogas e a prática de crimes surgem como comportamentos relacionados), circularidade oclusiva (especialização na formação dtoga-crime) , integração (caracteriza-se por uma forte interdependência entre a droga e o crime, por ser cada vez menos evidente as propriedades particulares da droga e da delinquência, ou seja, a toxicodependência não funciona sem a delinquência, nem a delinquência sem a toxicodependência)e implosão (Aqui prevalece a dependência, pois o indivíduo realiza tudo o que for necessário para adquirir droga não se importando minimamente com a prática de crimes e as suas consequências).<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E como dizia Brochu, o homem é dotado de vontade, sendo capaz de valorar os seus comportamentos, sejam eles convencionais, delinquentes ou toxicodependentes, podendo haver então uma evolução nestas trajactórias desviantes, podendo haver uma desistência ou uma estagnação. Enfim a tudo isto há que juntar a imprevisibilidade humana e toda a multiplicidade de factores de risco e protecção que influenciam o indivíduo no seu dia-a-dia.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E voltando à frase de início, ambos os fenómenos são altamente complexos, podendo dar as mãos, ou simplesmente caminhar lado a lado sem se tocarem!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Anonymousnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-2542029507480261772009-11-11T13:01:00.000-08:002009-11-11T13:26:20.462-08:00Rumo da Criminologia<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_lDTPQTKeDBU/R3UUKKFFkgI/AAAAAAAAAeY/5kquSs0nfQs/s400/Karl+Popper.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 199px; height: 250px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_lDTPQTKeDBU/R3UUKKFFkgI/AAAAAAAAAeY/5kquSs0nfQs/s400/Karl+Popper.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Segundo o pensamento de Karl Popper, a ciência é o melhor exemplo de uma actividade racional e o melhor meio para se abordar a racionalidade. Por duas razões: porque a ciência é necessariamente racional e porque reclama uma atitude de permanente critica. O mesmo é dizer que por mais sólido, definitivo ou certo que o nosso conhecimento nos pareça, a atitude deve ser a dúvida, a incerteza e uma procura constante de encontrar uma explicação mais adequada para a realidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Em <i>"A lógica da pesquisa cientifica"</i>, Popper reflecte sobre o critério de demarcação de uma ciência e do pensamento indutivo. Assumindo-se contra este último, afirma que o único modo de uma ciência ser empírica é submeter-se à prova. Isto é, ser falsificável. Senão vejamos. Se partirmos de um conjunto de observações e quisermos verificá-las, não estaremos nós à procura de algo que assumimos que existe? Não estaremos à procura do esperável? Com efeito, urge uma forma diferente de atribuir cientificidade a uma teoria, ou, então, de substituir um conjunto de meras observações por uma teoria no verdadeiro sentido da palavra. Mas será esta teoria por si só definitiva? Não, já que a Ciência é movida pela critica, pelo progresso, pela abertura a novos desenvolvimentos. Daí que o autor tenha desenvolvido o <i>método dedutivo de prova</i> (que corporaliza a <i>falsificabilidade</i>) e que consiste em colocar em relevo os erros contidos na teoria, corrigi-los e refazer essa teoria. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Assim, Karl Popper contribui para implementar uma vontade de saber mais e de não nos conformarmos com o adquirido que apenas nos permite viver na escuridão.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';"> É esta a lógica de descoberta cientifica, e é este o rumo que a Criminologia deve seguir. </span></div>Inês Guedeshttp://www.blogger.com/profile/07963496006448597518noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-86484724257848773292009-11-08T04:00:00.000-08:002009-11-08T04:00:12.165-08:00No CSI, yes "The Campbell Collaboration" e "The journal of Experimental Criminology"<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"The Campbell Collaboration" e o " The journal of Experimental Criminology" são dois argumentos muito válidos para demonstrar um dos tipos de investigação que se faz em Criminologia e que a Escola de Criminologia nos ensina a fazer! Nada de CSIs!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"The Campbell Collaboration" foi fundada em Fevereiro de 2000 com o objectivo de preparar, manter e tornar acessível revisões sistemáticas ( síntese de resultados obtidos em diferentes estudos de avaliação "evidence-based") sobre o efeito das intervenções aos níveis social, educacional e na área do crime e da justiça. O site oficial é: <a href="http://www.campbellcollaboration.org/">http://www.campbellcollaboration.org/</a>. <br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">"The journal of Experimental Criminology" é uma revista científica que tem como objectivo publicar estudos experimentais e quasi-experimentais assim como trabalhos de revisão. O site é: <a href="http://www.springer.com/social+sciences/criminology/journal/11292">http://www.springer.com/social+sciences/criminology/journal/11292</a> e neste <a href="http://www.springerlink.com/content/v572783t663262jn/fulltext.html">http://www.springerlink.com/content/v572783t663262jn/fulltext.html</a> têm-se acesso livre a um dos artigos na íntegra.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Explorando um pouco estes sites entende-se o quanto as cadeiras de Criminologia Experimental, Estatistica Aplicada e Métodos Quantitativos ajudam na formação de um licenciado em Criminologia. O objectivo é sermos úteis à sociedade elaborando estudos rigorosos em que se conhecem as realidades envolventes e se adequam as medidas que melhor aplicar-se-ão a esses contextos a fim de reduzir fenómenos criminógenos!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O CSI não existe nem na Escola de Criminologia da FDUP NEM EM LADO NENHUM!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não se deixem enganar por quem quer vender o Crime!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Anonymousnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-47610011751884982672009-11-07T15:08:00.000-08:002009-11-07T15:22:09.118-08:00Papel do Criminólogo<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O criminólogo é um cientista, tem a visão aguçada, os sentidos apurados e o espírito aberto. Ele investiga a realidade metódicamente, objectivamente, mantendo-se o mais próximo e o mais longe possível, na fina linha que separa a subjectividade do mundo, da objectividade do método! <br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A criminologia é uma área dotada de uma enorme riqueza e vastidão, tem objectos de estudo variados, como o crime, o criminoso, o delinquente, a vítima, « o mundo da droga», a (in)segurança, os sistemas de controlo social ( e.g. sistema de justiça). Integra saberes provenientes de áres diversas, desde a psicologia, à sociologia, à biologia, à física, à medicina. Isto porque, o Criminólogo não só produz saber próprio, como também usufrui dos conhecimentos e métodos que se produzem constantemente nas diversas áreas do conhecimento, adaptando-as ao seu objecto de estudo. Esta dialéctica integrativa permite chegar a um maior rigor, um maior perfeccionismo, permite melhorar a cada passo o método usado a fim de chegarmos a soluções pragmáticas cada vez mais utéis à sociedade.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em primeiro lugar, dever-se-á compreender que o Indivíduo é um ser Biopsicossocial, um Ser que cresce no mundo através de um processo contínuo de Socialização em que a Construção daquilo que é resulta da interacção mútua e complexa entre o Meio Social, a sua Personalidade e a sua matriz Biológica. Portanto cada parte deve ser estudada em separado nas suas especificidades múltiplas mas tendo em vista a integração neste modelo Biopsicossocial.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O cientista não pode estudar o mundo de uma vez, tem de estudar recortes dessa realidade, sabendo aquilo que já se estudou e aquilo que falta ainda descobrir e desvendar!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">No curso de Criminologia tudo isto é abordado, existem cadeiras mais voltadas para a Sociologia , outras mais voltadas para a psicologia e outras para a biologia dando a conhecer os teóricos que nessa área contribuiram para o conhecimento no fenómeno criminológico. Temos a cadeira de Vitimologia, Questões de Segurança, Sistemas de Controlo, ainda outras ligadas ao Direito Penal, às questões de polícia, entre outras.. Objectos de estudo tão interessantes onde muita investigação falta ser feita.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Podemos desenvolver estudos criminológicos contribuindo de modo pertinente para a produção de artigos científicos, intervir juntos dos sistemas penitenciários, do sistema prisional, dos centos de toxicodependência e reinserção social, entre outros. Podemos usar o método experimental, aplicando experiências a amostras, desenvolvendo estudos do tipo avaliativo a fim de testar estratégias de intervenção, descobrir modos de comportamento e reacção... Podemos usar os métodos quantitativos e aplicar questionários, recolher dados de amostras e tratá-los estatisticamente ou mesmo recorrer aos métodos qualitativos ( algo sobre o qual me vou debruçar mais cuidadosamente num próximo post) e integrarmo-nos directamente no terreno, no meio, conviver com o objecto de estudo, aceder à sua subjectividade, ao seu «mundo» tal como ele se apresenta, uma das questões aqui, seria a observação participante em bairros sociais problemáticos, por exemplo!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Todo este texto apresenta tudo e nada, parece um texto farto a transbordar de ideias e informações mas simultaneamente com muitas ideias em suspenso, mas Calma, tudo isto será desenvolvido com calma, cautela e máximo rigor neste blogue, a fim de Sabermos todos o que é neste momento A CRIMINOLOGIA e o quanto ela pode ser útil!<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Este blogue transbordará de informações, esclarecimentos e sensações pois como criminólogas será importante contarmos um pouco as experiências do dia-a-dia na Escola de Criminologia, dando a <strong>Conhecer ao Mundo, Um Novo Mundo, o da Criminologia!</strong><br />
</div>Anonymousnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8120512203139305091.post-67023506132635652492009-11-03T14:33:00.000-08:002009-11-03T15:31:27.067-08:00O que é a Criminologia?<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Todos os dias somos deparados com notícias sobre o crime, a violência, o sentimento de insegurança, a criminalidade e outros elementos directa ou indirectamente relacionados. Vivemos numa Era em que o crime vende, em que o sofrimento dos outros provoca, na generalidade das pessoas, uma curiosidade mórbida crescente. A população, dotada de livre-arbítrio, coloca-se do lado da vítima e proclama medidas mais punitivas para "os monstros que corroem a nossa sociedade". Influenciadas pelos </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">media, </span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">pelas séries televisivas e pelas opiniões infundadas, acabam por cair num determinismo difícil de curar. Acredita-se fielmente que a criminalidade está a disparar; que a droga leva, de forma linear, ao crime; que a pobreza e a crise provocam, sem qualquer margem para dúvidas, um incremento dos níveis da criminalidade. A maior parte das pessoas demonstra uma intenção de deixar de sair à noite e muitas não ousam passear depois de escurecer, actos que outrora eram feitos com espontaneidade. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Percebe-se, então, que o crime e os elementos circundantes são vistos de forma simples, linear e sem fundamentações cientifica. Como contrariar esta simplicidade e substitui-la pela complexidade? </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Já mais de 100 anos passaram desde que a Criminologia começou a emergir. No século XIX, a Escola Positivista, pelas mãos de Lombroso (que escreveu "O Homem delinquente" em 1876), dá os primeiros passos na criação de uma disciplina cientifica. Efectivamente, com uma hipótese errada - o homem delinquente é diferente, em natureza, do homem normal - este autor procurava sinais na constituição do crânio que diferenciassem um criminoso de um não criminoso. Defendia a existência do criminoso nato (e portanto, aliava-se ao determinismo), que era um ser atávico, i.e., que pertencia a uma espécie anterior. Apesar de se apoiar numa hipótese que ao longo dos tempos foi sendo refutada, Lombroso suportou-se no método experimental, o que contribuiu para a legitimação da Criminologia (na altura, Antropologia Criminal) como uma área de saber cientifica. Os seus discípulos (Garófalo e Ferri) continuaram na procura da etiologia do crime, embora atribuissem causas diferentes ao impeto criminal de um individuo: moralidade e multifactorialismo, respectivamente. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Com o decorrer do século XX, vários foram os autores que potenciaram a cientificidade da Criminologia e o conhecimento complexo da mesma. Várias teorias foram desenvolvidas no sentido de entender a personalidade criminal do individuo (estando este conceito relativizado hoje em dia); conhecer o processo de passagem ao acto criminoso (e.g. De Greeff). Por outro lado, através dos movimentos feministas, o foco começou a dirigir-se não só para o criminoso mas também para a vítima, sendo que, inicialmente, esta era concebida como alguém que precipitava o crime. Nos anos 60 emergiu o estudo da reacção social ao crime, onde teorias como o Labelling (Becker, H.) foram imperando e influenciando outras. Mais recentemente, a (In)Segurança tem entrado no universo criminológico, tendo, actualmente, uma digna importância na ciência em questão. Com efeito, este sub-elemento permite entender e problematizar não só os dados objectivos da insegurança mas também os sentimentos das pessoas. Afinal, o que é o medo? O que é a preocupação? Através das teorias desenvolvidas por diversos autores (e.g. Ferraro) torna-se fulcral a ideia de que podemos ter medo de sair depois de escurecer mas não estarmos preocupados com o fenómeno do crime, algo que é necessário diferenciar na altura de medir a insegurança (e a criminalidade). </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Pois bem, percebe-se então que a Criminologia é uma ciência interdisciplinar - ou uma área que se candidata a uma ciência, estando a subir os degraus necessários (e aqui emergem questões epistemológicas que futuramente serão respondidas) - que estuda o acto, o criminoso, a vítima, a reacção social e a (in)segurança. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Este blog tem como objectivo dar a conhecer a Criminologia, os seus objectos, métodos e objectivos, procurando, mesmo informalmente, contribuir para o crescimento desta importante área de saber.</span></div>Inês Guedeshttp://www.blogger.com/profile/07963496006448597518noreply@blogger.com0