terça-feira, 11 de maio de 2010

Portugal: É urgente promover uma Cultura Científica

Perante um país que sente os efeitos perversos de uma crise económica, política, social e de valores, parece-me, e esta é a uma humilde opinião, por si, limitada, de uma aluna que frequenta ainda e só o 2ºano da licenciatura, que Portugal continua um país de pouca sabedoria e sem método, um país que continua a querer mostrar trabalho em discursos vazios e práticas despejadas de cientificidade. Qual é aqui a questão principal?? Fala-se muito em crime, delinquência juvenil e insegurança, urge agir, delinear políticas de intervenção, mas o trabalho fica sempre incompleto, fica sempre por fazer... Que falta aqui? Uma palavra tão simples e tão já dessiminada na sociedade, a Avaliação... Bem, ao ouvirmos esta palavra poderemos lembrar-nos de empresas que prestam determinados serviços e que no fim perguntam: Está satisfeito?, critério altamente subjectivo que não mede em nada a eficácia de um serviço.... Infelizmente é um pouco desta avaliação que se faz... Avaliação com uma lógica empresarial que infectou a administração pública.. Bem, como isto é um blogue voltado para futuros criminólogos, sinto uma enorme necessidade de dizer, que em Portugal há muito ainda a aprender e muito ainda a ensinar e muito ainda a fazer... É urgente criar uma cultura científica, é necessário promover politicas com base cientifica para que sejam eficazes e económicas.

O que é então uma avaliação cientifica??

Em "Introdução à medicina experimental", Claude Bernard explica-o muitíssimo bem...

"Há, portanto, duas operações a considerar em uma experiência. A primeira consiste em premeditar e realizar as condições da experiência; a segunda consiste em verificar-lhe os resultados." (Bernard, 1978, p.35)

Transportando isto da medicina para a criminologia, passarei a dar um exemplo prático de uma avaliação tipo:

Problema: Centro Educativo para menores delinquentes--» quero criar um plano de intervenção de modo a reduzir o comportamento agressivo dos jovens delinquentes.

Selecciono uma amostra de 100 indivíduos, em que 50 farão parte do meu grupo experimental ( aqueles que sofrerão a intervenção) e 50 farão parte do meu grupo de controlo ( aqueles que não sofrem qualquer intervenção).

Escolho um instrumento de recolha de dados--» por exemplo um inquérito que me permita medir os níveis de agressvidade dos jovens que compõem ambos os grupos.

Planifico qual o programa de intervenção: primeiro fazendo uma contextualização teórica com estudos já feitos na área e teorias, por ex: da personalidade, que desenvolvem este traço da personalidade, teorias de cariz mais biológica, que a associam a um gene ou a uma hormona, etc... Delimito qual a estratégia de intervenção ( imaginem que eu queria testar uma nova terapia de grupo em que a partilha e confrontação de experiências pudesse levar o jovem à reflexão e atribuir novos significados ao seu vivido, deixando de ser tão agressivo com os colegas e os técnicos)..

No final da intervenção é necessário passar o mesmo instrumento que apliquei antes da intervenção para voltar a verificar os níveis de agressividade, comparar ambos os grupos e verificar quais os resultados, se foi ou não eficaz naquele contexto.

Há ainda a necessidade de avaliar do rigor e cientificidade da própria avaliação e analisar a aplicabilidade do programa..

isto sim é uma Avaliação, isto sim nós temos de fazer, porque para um país que peca por poucas e más intervenções, pior será se não avalia o que faz para poder, finalmente, produzir conhecimento cientifico e melhorar...

Muito há a fazer na intervenção junto de reclusos, menores delinquentes e em perigo, segurança, vitimação...

Usando um pouco das palavras de um ilustre criminólogo português, Deixemo-nos de pensamentos mágicos e do "terror interventivo" e passemos a intervir a avaliar cientificamente, acrescento eu, Deixemos de meros discursos e ideologias, vamos ao terreno intervir e ver o que funciona ou não, se queremos um lógica de economia e de segurança pública e /ou paz social. 

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